sexta-feira, 28 de novembro de 2008


Cegueira Bendita

Ando perdida nestes sonhos verdes
De ter nascido e não saber quem sou,
Ando ceguinha a tatear paredes
E nem ao menos sei quem me cegou!

Não vejo nada, tudo é morto e vago…
E a minha alma cega, ao abandono
Faz-me lembrar o nenúfar dum lago
´Stendendo as asas brancas cor do sonho…

Ter dentro d´alma na luz de todo o mundo
E não ver nada nesse mar sem fundo,
Poetas meus irmãos, que triste sorte!…

E chamam-nos a nós Iluminados!
Pobres cegos sem culpas, sem pecados,
A sofrer pelos outros té à morte!

Florbela Espanca -

Trocando olhares - 24/04/1917



Vejo-me triste, abandonada e só
Bem como um cão sem dono e que o procura,
Mais pobre e desprezada do que Job
A caminhar na via da amargura!

Judeu Errante que a ninguém faz dó!
Minh’alma triste, dolorida e escura,
Minh’alma sem amor é cinza e pó,
Vaga roubada ao Mar da Desventura!

Que tragédia tão funda no meu peito!…
Quanta ilusão morrendo que esvoaça!
Quanto sonho a nascer e já desfeito!

Deus! Como é triste a hora quando morre…
O instante que foge, voa, e passa…
Fiozinho de água triste…a vida corre…

Florbela Espanca


Sonhando…

E olho suspirando o infinito céu,
Fico a sonhar de leve em muita coisa bela
Fico a pensar em ti e neste amor que é teu!

D’olhos fechados sonho. A noite é uma elegia
Cantando brandamente um sonho todo d’alma
E enquanto a lua branca o linho bom desfia
Eu sinto almas passar na noite linda e calma.

Lá vem a tua agora… Numa carreira louca
Tão perto que passou, tão perto à minha boca
Nessa carreira doida, estranha e caprichosa

Que a minh’alma cativa estremece, esvoaça
Para seguir a tua, como a folha de rosa
Segue a brisa que a beija… e a tua alma passa!…

Florbela Espanca - Trocando olhares


Na vida não sei usar rascunhos.
 Sou eu o tempo inteiro 
tentando não me despedaçar.
 Nem guardo comigo as histórias
 que não me fizeram bem.
 Eu bebi vinho demais na 
despedida de minha sanidade.
 Hoje não importa as horas.
 Hoje quero crescer na medida de 
meu equilíbrio e serenidade.

LEOMETÁFORA 


















                 LEVE


Eu te falo com cuidado pra que exista esperança.
Te invento, te toco, te peço, pra que tudo seja mas leve.
Só pra ver teu sorriso de novo brincando no seu rosto.
Se eu me contradizer,
você sabe que palavras às vezes enganam.
Eu misturo os meus versos no chão,
eu me rendo a qualquer dos teus beijos,
eu me entrego ao menor toque da tua mão.
Temo que você desapareça agora,
antes de sentir que hoje sou só teu.
Ando à tua estrada, já não vejo a hora
de roubar sereno mais um beijo teu.
E a gente se amando. Pele sobre pele.
Recolho a poesia vinda deste ser teu, assim.
Escrevo todo dia uma carta pra você.
Te conto minha história pra você ver
o quanto eu esperava por você.
( Música de Leometáfora)






                                           

FADA DAS HORAS

Fada das Horas (música de Leometafora)


Sei que você tem que ir embora.
Sei que já é hora de partir.
Mas vem me dá um beijo agora.
Me dá um bom motivo pra existir.

Que além do silêncio fica teu cheiro.
Que além da saudade fica tuas mãos.
Marcadas na pele.
Nas horas de amor.
Pedindo pro vento.
Mandar-te uma flor.

Sei que só me restam as palavras.
Sei que nenhum verso irá contar.
Mas tudo que estou dizendo agora.
É só mais um motivo pra você voltar.

Dá-me luz fada das horas.
Dá-me luz me conta uma história.
Dá-me luz acolhe o menino.
Perdido em seus sonhos, em seus beijos, em suas mãos.

( Leometáfora )





Na dança que dançamos 
deslizas para longe.
Múltiplas vezes largas a mão que te guiaria.
Danças teu tango monossílabo de ventos que faz 
rodopios em teus cabelos. E eu que ensaiei por toda uma vida única valsa,
te admiro.
O par que te assenta melhor é a luz. 
Eu escuro escolho tocar um tambor. 
Que dances mesmo sem vontade! 
Que cantes a saudade que não me conhece!
Não importa. 
Hoje o ritmo que acompanho, eu sinto em teus pulsos. 
É a única dança que me farta em alegria.
Então, que meus dedos tortos fujam em
desaperto dos calçados.
É liberdade o que procuro,
imitando toscamente 
os teus passos bailantes. 
(LEOMETÁFORA)

Rezando carnudas
bocas em minha nuca, eu me
estalo. Junto aos meus ossos que
seguem o meu pênis numa curva.
Ah pra cima nobre guerreiro e avante!
Rasgar os tecidos, manchar o umbigo no
cítrico néctar de uma vulva.
Então volto a contradizer que quero paixões.
Mordidas, puxões!
Inflamadas na alma.
Úmidas e loucas,
que a carne hoje turva.

(Leometáfora)